Sobre a mesa, uma revista que trazia uma crítica ao
enredo duma novela sobre clonagem. “Pura ficção”, dizia, sobre a questão de um
virtual clone humano “lembrar-se geneticamente” de acontecimentos envolvendo
seu “pai” celular – a pessoa que de quem se usou o material genético para
“produzir” o clone.
Sim,
pura ficção. Mas, a sensação que me envolvia não era ficção. Não, não se
tratava de uma clonagem. Nem mesmo de “outras vidas”, conforme acreditam
alguns. Mas era algo grande, que tomava conta de minha mente e meu coração, à
medida que eu lia as cartas, os diários, as anotações, as lembranças de alguém
que viveu sua juventude por volta do início dos anos 1900.
Mais
de cem anos se passaram! Mas, cada vez que lia aquelas palavras, a saudade apertava
em meu peito, a ponto de algumas lágrimas nascerem em meus olhos e descerem
discretamente pela minha face.
Saudade
de algo que não vivi? Foi então que, em minha mente, a imaginação encontrou
terreno fértil e passou a me ensinar sobre a verdadeira memória genética:
lembranças e sentimentos que herdamos de nossos antepassados, que seguem um
longo caminho, escondidos em algum cantinho de nosso código genético, e que, de
repente, afloram em um de nós.
Isso
explicava também a saudade do cheiro de terra, do mato, dos passarinhos, do céu
azul e da vida no interior, que nunca vivi. Sim! Minha memória genética clamava
por algo que não possuo hoje.
Tola
imaginação! Não vê que tudo não passa de uma vontade, de um desejo de viver
daquela maneira, de estar naquele lugar, de compartilhar daqueles momentos?
A
imaginação cede a meus argumentos. Procura refúgio num cantinho da mente, onde
estão as lembranças, a saudade, a vontade de (re)viver tudo aquilo!
Décio Diniz (23.09.2005)
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