terça-feira, 22 de junho de 2010

Pedaços de mim


Ainda guardo comigo
Lembranças dum tempo que se foi
Carrego comigo
Imagens gravadas
Dentro da minha mente
E do meu coração
São minhas, para sempre

Por toda a minha vida
Revivo-as
Eternamente
São pedaços de mim
Tesouros que guardei
Embrulhados na minha memória
Selados com minha saudade

Décio Diniz

Lágrimas de sangue

Meu coração ainda sangra
Passam os dias, os meses, os anos
Ainda acordo num sobressalto
No meio da noite
Lembrando o momento da partida
Querendo ficar
Estou sozinho neste sentimento
Afogando-me em meu desespero
Ainda sangra meu coração
Insiste em não cicatrizar
Minhas lágrimas secaram
Mas meu coração ainda chora
Lágrimas de sangue


Décio Diniz (março de 2006)

Seis anos

Seis anos
Que às vezes parecem seis meses
Outras, seis décadas
Tamanha a quantidade de
Sentimentos
Sensações

O que são seis anos?
Mais de setenta meses
De dois mil dias
Quase duzentos milhões de segundos

Segundos desperdiçados
Segundos bem aproveitados
Segundos que devem ser somados
Ou diminuídos?

Centenas de milhões de segundos
De vida
Milhares de segundos de erros
Milhares de acertos
Outros milhares de dúvida
E outros de certeza

Podem apenas seis anos
Conter milhares de momentos vividos?
Podem conter uma vida?
Quantas vidas podem conter?

Quantos milhares de segundo
Levaremos para ter as respostas?
Não sabemos
Mas a cada gota de segundo
Deste oceano de tempo
É preciso renascer
De modo que apenas poucos anos
Podem conter milhões de vidas!

Décio Diniz (março de 2008)

De volta a lugar nenhum

Sempre fui fascinado pela idéia de voltar ao passado. Não acreditava em máquinas do tempo, ou coisas assim. Mas, tinha certeza de que havia alguma maneira de transpor a barreira do tempo. Talvez não para o futuro, que ainda não aconteceu, mas certamente para o passado.

Certa vez, assisti a um filme onde o protagonista conseguiu voltar ao passado por livrar-se de qualquer coisa que estivesse ligada ao presente, ao passo que se concentrava num ambiente caracterizado pelo passado. De algum modo talvez isso fizesse sentido. Por várias vezes tive a nítida sensação de que um cheiro ou uma música, mesmo que por alguns segundos, me transportava ao passado. Era isso o que eu precisava fazer. Reconstituir exatamente a cena de algum tempo atrás. Tinha de dar certo.

Entrei no carro, liguei o som e coloquei a música. A mesma que ouvi anos atrás. Fui direto para o lugar em que achava ter sido o ponto de partida para tudo o que havia acontecido desde então – aquela curva. Pouco antes do trevo, aumentei o volume do som e acelerei o carro. Tinha de fazer exatamente como daquela vez, fazendo a curva de repente. Os pneus cantaram e o carro girou, entrando no trevo e atravessando a outra pista.

Ao entrar pela rua principal, senti um frio pelo corpo e o coração bater forte. O que havia acontecido? Uma forte neblina envolvia tudo lá fora, e a vista pela janela do carro parecia desenhada a carvão. Era como se eu estivesse assistindo a um filme em preto-e-branco. Encostei o carro e desci. O ar gelado endurecia minha pele e um arrepio correu por todo o meu corpo. Não se via uma pessoa na rua, nenhuma luz nas casas. Nenhum barulho, nenhum ruído. Apenas o dos meus passos lentos. Me senti como um vivo caminhando pelo mundo dos mortos. Ou seria aquilo o futuro? Parecia mais um tempo perdido. Nem passado, nem futuro, embora também não fosse o presente. Subitamente, tive a impressão de que estava perdendo os sentidos. Fechei os olhos e tentei respirar com dificuldade. Ao abri-los novamente, estava em meu quarto, a escuridão quebrada apenas pela luz vermelha do visor do relógio, marcando três e meia da madrugada.

Tudo então não havia passado dum sonho? A sensação era tão real que não conseguia acreditar nisso. Meus pensamentos estavam confusos, embaralhados. A única coisa que vinha de forma bem clara à mente eram as palavras que ouvi certa vez: “Nunca volte a um lugar em que você foi feliz.”

Décio Diniz (abril de 2006)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O tempo

O tempo é nosso amigo
Cicatriza nossas feridas
Aumenta-nos a sabedoria
Enche nossa vida
Leva embora momentos ruins

O tempo é nosso inimigo
Faz cada vez mais distantes
Bons momentos
Amigos que partiram
Pessoas que se foram

O tempo é inflexível
Avança em uma única direção
Não cede
Não volta

O tempo nos esmaga
E nos engrandece
Nos faz ser
humanos


Décio Diniz (setembro de 2005)

Estupidez

Ele caminhava pelos escombros. Cheiro de morte no ar. Paisagem de fim de mundo. Apenas o vento frio, que levantava uma nuvem de pó, ressoava em seus ouvidos, como uma melodia fúnebre. Andava com dificuldade. A cada passo a perna falhava, a dor lancinante lhe coibindo o ritmo. O corpo todo ardendo em feridas.

Seus olhos foram se acostumando com a escuridão. Aos poucos começou a distinguir os corpos espalhados pelo caminho. A força que lhe restava foi-se esvaindo. Encostou num pedaço de muro que resistira às explosões. O corpo foi escorregando até o chão. Fechou os olhos. Viu o sorriso da esposa amada e o filho correndo para seus braços. Derramou algumas lágrimas, que molharam o rosto imundo.

... Agora tudo era sem vida. Até mesmo o vento não soprava mais. Aos poucos o dia amanheceu, revelando o horror do cenário. O caos. A morte. A guerra. A estupidez.

Décio Diniz

O quintal - Capítulo 2

Alexandre e Alice amavam ouvir as histórias que o pai contava. Eram histórias inventadas por ele, misturando personagens que já existiam co...