terça-feira, 27 de outubro de 2009

De volta ao Sítio - Capítulo 3

Faz-de-conta

Depois do jantar todos estavam a postos na sala, esperando por dona Benta. Tia Nastácia já havia sentado no sofá e fechava os olhos de sono.
- Não disse que ela já sabe da novidade? Já dorme tranqüila o sono dos despreocupados, enquanto a gente fica aqui morrendo de curiosidade.
- Quieta, Emília! Deixa a tia Nastácia em paz. Vovó já está chegando.
Dona Benta entrou com um envelope na mão, e sentou-se em sua cadeira de balanço.
- Hoje recebi esta carta de São Paulo.
- São Paulo? De quem, vovó? - perguntou Narizinho.
- Algum restaurante famoso querendo contratar tia Nastácia? - brincou Pedrinho, rindo-se da pobre Nastácia que abria os olhos, assustada: "Que foi?"
- Que restaurante nada. Para mim é do Dom Pedro!
- Que Dom Pedro, Emília?
- Aquele que deu o "brado retumbante" às margens do rio Ipiranga, ora! Isso não foi em São Paulo?
- Acorda, Emília. Isso foi a quase duzentos anos!
Dona Benta ria-se daquilo tudo.
- Deixem a imaginação para depois, criançada. A carta não é de nenhum restaurante, muito menos de Dom Pedro I. Escutem que eu vou ler para vocês: "Querida dona Benta, há muito queria lhe escrever..."
Quando dona Benta terminou, Emília estava pensativa, com os dedos no queixo, olhar para cima.
- Então, pessoal, o que vocês me dizem disso? - perguntou dona Benta.
- O que será que ele quer aqui no sítio, vovó?
- Quem sabe ele quer fazer um filme, Narizinho! Ou uma entrevista, ou um documentário para a televisão?
- Será, Pedrinho? Ele disse que sente saudade daqui sem nunca ter vindo ao sítio.
- Mas disse também que em seus sonhos passou a infância aqui conosco - lembrou o Visconde.
- Esta parte me interessa - gritou Emília. Se ele não é mais criança, mas esteve aqui quando criança, e foi em sonho, então tem a ver com o faz-de-conta, e de faz-de-conta eu entendo.
- E ele apelou para você, Emília. Não sabe como chegar até aqui, mas acredita que você tem uma solução para isso.
- É claro que tenho. É como eu sempre digo, adulto se aperta por tão pouca coisa!
- E qual é a solução, Emília?
- Responda a carta, dona Benta. Diga que venha sim, que queremos conhecê-lo e descobrir o que ele quer realmente. Diga que venha logo porque já estamos esperando.
- Ela fala como se fosse a dona do sítio!
- Sei muito bem que a dona é a sua avó, Narizinho! Mas sei também que dona Benta nunca faria essa desfeita a alguém que quer conhecer o sítio.
- E não farei mesmo, Emília. Mas, afinal, ele quer saber como vir. O que eu respondo, bonequinha?
- Muito fácil. Diga para ele arrumar as malas, ficar prontinho e fechar os olhos com bastante força. Quando abrir novamente estaremos na porteira para recebê-lo.

(Continua...)

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